O município do Ambriz, na província do Bengo, é caracterizado pela oferta de peixe que alimenta a província e não só e, por este motivo, tornou-se no destino de comerciantes do negócio proveniente do mar, como peixes e outros animais aquáticos que a costa pesqueira da região oferece.

Texto e Foto de Simão Hossi

Com uma distância de 125 quilómetros entre a sede municipal e a cidade de Caxito, capital da província do Bengo, Ambriz tem uma população estimada de mais de 30 mil habitantes, segundo dados do censo da população de 2014. A região costeira que ascendeu à categoria de município em 1884 foi no passado um dos pontos usados para o tráfico de escravos saídos de Angola para as Américas e Europa.

A nossa reportagem visitou a pequena Ilha e ouviu os pescadores e vendedoras que manifestaram preocupações pelas actividades que desenvolvem nos mares da província do Bengo, a norte da capital de Angola, Luanda.

Agostinho Jorge

Agostinho Jorge tem 37 anos de idade, exerce a actividade de pesca há dois anos e conta que, para além dos peixes grossos, estão também a vender os finos e para ele o mar tem sido uma bênção pela venda dos peixes que captura, mas lamenta a proibição de pesca da sardinha, vulgarmente conhecida por lambula. Para este cidadão, a proibição prejudica a população vulnerável da vila, que deixou de ter o peixe à mesa por causa dos preços das outras espécies que não são acessíveis aos consumidores local, sendo que os seus maiores clientes nesta altura têm sido comerciantes provenientes da cidade de Luanda e República Democrática do Congo.

Já Paulina Cândida Kamota, de 58 anos de idade, natural da província do Bié e há 30 anos que se dedica a compra e venda de peixes, comercializa o pescado do Ambriz na província de Luanda, onde reside no momento. A vendedora conta que já vendeu peixes como a cabuenha, kimbumbu, lambula, carapau e outros, mas lamenta porque actualmente “estamos a resistir às dificuldades desta época de veta da sardinha, medida imposta pelas autoridades, por este motivo agora estamos a apostar no peixe escalado, para não ficar parada. Não está fácil, mas mesmo assim conseguimos aguentar o sustento da família, não podemos desistir do negócio”.

Paulina Cândida Kamota

A veterana no comércio conta ainda que, apesar dos altos e baixos que o negócio impõe, sobretudo nesta época com a proibição da pesca da sardinha, comercializa nestes últimos tempos os peixes grossos como o kimbumbu e peixe seco, e conta ainda que nunca fez outro tipo de negócio e vê nele os seus benefícios e lucros para cumprir as suas responsabilidades para com a família.

O jovem Benilsom Kiela António, de 33 anos de idade, é pescador há 5 anos, contou à nossa reportagem que a actividade que exerce é complexa. Para ele, o mar tem momentos de sorte também.

“A actividade de pesca em si tem sido boa, mas nem sempre temos a vantagem de ganhar todos os dias. Há vezes em que dá e há vezes que não”, contou.

Benilsom Kiela António

O nosso interlocutor falou também que no dia em fazíamos a nossa reportagem na praia do Ambriz a maioria dos pescadores terão falhado na captura, sendo que, para ele, aquele dia era de prejuízo com os combustíveis e logística que um pescador deve ter quando vai ao mar.

O também morador da pequena ilha diz que quando capturado muito peixe as vendas aumentam. Referiu que não faltam clientes na vila do Ambriz, porque todos os dias recebem compradores das províncias de Malange, Uíge, Cabinda, Luanda, Icolo e Bengo e até compradores vindos da RDC.

“Por norma, fizemos pesca de arrastão, bate bate, rapa, cerco, e de todos estes métodos de pescas capturam todo o tipo de peixe”, contou

António Feliciano Francisco

Na mesma senda, António Feliciano Francisco, de 39 anos de idade, está na actividade da pesca há 14 anos, conta que a rotina virou costume devido às perdas e ganhos com a pesca. O pescador adiantou ainda que o trabalho que exerce requer paciência e calma para que as coisas corram bem. O morador disse que estão a lidar bem com o período de proibição da pesca de sardinha dedicando-se à captura de outras espécies. Para este jovem experiente o mar requer habilidade, capacidade de controlar o vento, estar sempre equipado com bússola, possuir remos, ter âncora, possuir coletes salva-vidas, medicamentos para pequenos socorros, comunicação telefónica e instrumentos para segurança do profissional da pesca.

Adelino António Xavier

Por sua vez, Adelino António Xavier, de 58 anos de idade, exerce a actividade de pesca há mais de 15 anos. Concorda com Benilsom sobre a complexidade da actividade em si. Para ele, a captura depende muito de cada período. Frisou que tem havido alguma baixa na captura do pescado por conta da proibição da pesca da sardinha.

“Estamos a enfrentar muitas dificuldades, poucas capturas do pescado. A sardinha é um peixe acompanhante com tudo, é um peixe que cabe para todos os bolsos” frisou.